quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Livros Para Ler Antes de Morrer - Romance & Drama

Como prometido segue agora a lista dos melhores livros de Romance & Drama já publicados, alguns já foram adaptados ao cinema mas a sétima arte nunca supera as veredas da mente humana, por isso sugiro que antes de assistir aos filmes leia os livros, de preferência nem veja os filmes depois disso pois as vezes a adaptação pode decepcionar.
Repito, as listas nunca são unânimes, gostaria também de saber a opinião de vocês sobre a mesma e, caso considerem que falta algum título, por favor comentem e partilhem com os restantes leitores.

Para quem já leu as listas de Horror & MistérioFicção Científica & Fantasia, a próxima lista será sobre os livros de Romance Policial & Investigação.

Leon Tolstói - La Guerre et la Paix (Guerra e Paz)


Guerra e Paz é o mais longo, o mais denso e mais significativo dos romances de Tolstói, foi escrito no período mais feliz da sua vida. Há nele de tudo - pranto e riso; grandeza e miséria; idéias falsas e idéias justas; injustiças e parcialidades; exaltação dos simples e humilhação dos grandes e o reconhecimento da potência divina que rege os homens e os destinos da humanidade.
Tolstói desenvolve no livro uma teoria fatalista da História, onde o livre-arbítrio não teria mais que uma importância menor e onde todos os acontecimentos só obedeceriam a um determinismo histórico irrelutável.
A riqueza e realismo de seus detalhes assim como suas numerosas descrições psicológicas fizeram de Guerra e Paz um novo gênero de ficção. Apesar de atualmente ser considerada um romance, esta obra quebrou tantos códigos dos romances da época que diversos críticos não a consideraram como tal. O próprio Tolstói considerava "Ana Karenina" (1878) como sua primeira tentativa de romance, no sentido aceito na Europa.

Guerra e Paz fez um enorme sucesso à época de sua publicação, imprevisto até mesmo para o autor.

"Milhões de pessoas praticaram, umas contra as outras, uma quantidade tão inumerável de crimes, embustes, traições, roubos, fraudes, falsificações de dinheiro, pilhagens, incêndios e assassinatos, como não se encontra nos autos de todos os tribunais do mundo em séculos inteiros [...]. O que produziu tal acontecimento extraordinário?”


Empenhado em responder a esta pergunta, através da busca pela verdade histórica dos fatos, e em argumentar com os historiadores de sua época, que no seu entender resumiam os acontecimentos nas ações de algumas figuras poderosas, Liev Nikoláievitch Tolstói (1828-1910) escreveu um dos maiores romances da literatura mundial. Guerra e paz descreve a campanha de Napoleão Bonaparte na Rússia e estende-se até o ano de 1820. Baseado em meticulosa e exaustiva pesquisa – com fontes que vão dos estudos do francês Adolphe Thiers e do russo Mikháilovski-Danílevsk a testemunhos orais –, Tolstói reconta os episódios que culminaram na derrota francesa e retrata, à sua maneira, personagens reais, como o próprio Napoleão e uma série de comandantes militares.



Jane Austen - Pride and Prejudice (Orgulho e Preconceito)


Orgulho e Preconceito é um clássico da literatura inglesa escrito em 1813. Muitas águas foram passadas, a autora, Jane Austen já faleceu há um bom tempo, mas sua obra continua viva dentro dos amantes da leitura. Há quem goste de ler clássicos, sejam eles de onde for, mas  Orgulho e Preconceito é a obra-prima de Jane Austen. O fato dela ter concluído o livro antes dos 21 anos então, torna-o, aos meus olhos, mais que um prodígio. Uma obra que reúne tudo, do romance até a intelectualidade, e ainda faz que com as pessoas gostem dele.

“São poucas as pessoas a quem realmente amo, e menos ainda aquelas dais quais tenho uma boa opinião. Quanto mais conheço o mundo, mais fico descontente; e a cada dia se confirma minha crença na inconsistência de todos os caracteres humanos e na pouca confiança que pode ser depositada nas aparências do mérito ou do bom senso.”


Sem dúvidas, para alguém que não está acostumado com esse tipo de literatura, a narrativa pode ser um choque. Jane Austen não se contém ao descrever a cena, o dia-a-dia e os costumes dos seus personagens com fidelidade. A narrativa é em terceira pessoa, mas constantemente somos levados para dentro da cabeça de Elizabeth Bennet e suas opiniões são expressas com o passar dos acontecimentos, tendo ela como a personagem principal e heroína. A autora não falha ao passara para nós o modo de pensar da jovem daquela época, através de Elizabeth. Quando ela escreveu o livro, isso poderia ser um mero detalhe, mas para nós, que estamos vivendo em pleno século 21, isso é incrível, ver como pessoas da nossa idade se portavam naquela época. Uma menina da minha idade já estava desesperada por casamento, quem imaginaria isso?


O universo do livro é o mesmo da Inglaterra rural e das caçadoras de marido que consagrou Austen como hábil cronista do cotidiano de seu tempo. Mas, neste livro em especial, a ousadia dela foi mais longe do que se esperaria de uma jovem casta, filha de um pastor anglicano e nascida no final do século XVIII. Jane fala com desenvoltura do amor, do desejo reprimido, da energia feminina, da sensualidade aprisionada em espartilhos que mal deixavam as damas respirarem. Por baixo da maquiagem e das incontáveis peças de roupa que impediam o contato mais direto de homens e mulheres (e aqui contato direto quer dizer um abraço ou um apertar de mãos sem uma luva no meio), ela explode em desejo. E ainda, sem trocar um único beijo, fascinante!


Colleen McCullough - The Thorn Birds (Pássaros Feridos)



Pássaros Feridos é um romance singular. Conta a saga da família Cleary que tem início no começo do século 20, quando Paddy leva a esposa, Fiona, e os sete filhos do casal para Drogheda, uma enorme fazenda de criação de carneiros, de propriedade de sua irmã mais velha, viúva e sem filhos. Entre os 7 filhos de Paddy, encontra-se Maggie, a protagonista deste romance. Sua história é contada desde quando tem apenas 7 anos e se sente excluída pela mãe que dá preferência aos filhos homens, até o final de sua vida como Senhora da enorme fazenda de Drogheda.

Entremeando esses acontecimentos, está o proibido amor de Maggie pelo ambicioso padre Ralph de Bricassart. Uma história de amor fantástica, envolvente, forte e significativa.


"Existe uma lenda acerca de um pássaro que só canta uma vez na vida, com mais suavidade que qualquer outra criatura sobre a terra. A partir do momento em que deixa o ninho, começa a procurar um espinheiro-alvar e só descansa quando o encontra. Depois, cantando entre os galhos selvagens, empala-se no acúleo mais agudo e mais comprido. E, morrendo, sublima a própria agonia e despede um canto mais belo que o da cotovia e o do rouxinol. Um canto superlativo, cujo preço é a existência. Mas o mundo inteiro pára para ouvi-lo, e Deus sorri no céu. Pois o melhor só se adquire à custa de um grande sofrimento"

O livro emociona do primeiro ao último capítulo. É impossível não se envolver com a personagem Maggie de forma que você sofra, ri, chore junto com ela em cada fase de sua vida. De criança à senhora. De menina à mãe. Colleen McCullough nesta obra em especial prova-nos com toda a sua magnitude o seu excepcional talento como contadora de histórias. A sensibilidade da autora em descrever tantos personagens, articulando-os em tantas gerações é digno de nota.


A temática do livro é o amor proibido entre Meggie e o padre Ralph. Focando um tema polêmico sem dúvida, mas que nos revela um amor puro, de entrega total de duas almas que se completam ao invés de um grande pecado. E para além do amor entre estes dois personagens existem ainda muitas histórias e revelações que nos prendem verdadeiramente a atenção ao ponto de só conseguirmos respirar fundo depois de termos acabado de ler o livro.

“Pássaros Feridos” sem dúvida nenhuma conquista o leitor, pela sua simples capacidade de produzir os mais variados sentimentos, transpondo-nos em mais de 600 páginas de pura emoção, fazendo-nos sentir quase que na própria pele o sofrimento e o destino dos personagens.



Willian Faulkner - The Sound and the Fury (O Som e a Fúria)

Abalado com a recusa dos originais do seu terceiro romance pelas editoras, Faulkner isolou-se. Nesse período, nasceu 'O som e a fúria'. No enredo, entre ideais de nobreza pueris e arroubos de ódio e de ganância que beiram o demoníaco, uma família põe fim ao que resta de si mesma. O clima de quase delírio construído com maestria é a expressão derradeira da ruína de um grupo social.

"Quando comecei o livro, não tinha nenhum plano. Eu nem sequer estava escrevendo um livro. De repente, parecia que uma porta se havia fechado, em silêncio e para sempre, entre mim e os endereços dos editores, e eu disse a mim mesmo: 'Agora posso escrever. Agora posso simplesmente escrever'"

Este romance, finalizado em 1929, marca o início da chamada "segunda fase" da carreira de William Faulkner (1897-1962) e é considerado, em geral, sua obra mais importante. Vinte anos depois, o autor se consagraria ao receber o Nobel de Literatura.

O tema central é o processo de desagregação e decadência da tradicional família Compson e seus últimos descendentes no ambiente racista do sul dos Estados Unidos. Faulkner utilizou técnicas modernas como o fluxo de consciência dos personagens, estruturas de tempo e espaço não lineares e, principalmente, diferentes vozes narrativas para compor esta história surpreendente, que não poderia mesmo ter sido integralmente compreendida na época, como explicou o próprio autor.

A história do livro acontece na fictícia Yoknapatawpha County, e tem como tema central a história de uma antiga família aristocrática do sul estadunidense, descendente do herói da Guerra Civil dos Estados Unidos, General Compson. O esboço geral da história é o enfrentamento do declínio e da dissolução da reputação da família Compson, e o romance é dividido em 4 seções distintas.

A primeira parte, em 7 de abril de 1928, é escrita sob a perspectiva de Benjamin "Benjy" Compson, um deficiente mental de 33 anos, e a narrativa é caracterizada por um estilo altamente desarticulado, com freqüentes saltos cronológicos.
A segunda parte, em 2 de junho de 1910, apresenta Quentin Compson, irmão mais velho de Benjy, e os eventos que levaram ao seu suicídio.
A terceira parte, em 6 de abril de 1928, é escrita sob o ponto de vista de Jason, o cínico irmão mais novo de Quentin.
Na quarta e última parte, ambientada um dia após a primeira parte, em 8 de abril de 1928, Faulkner introduz um narrador com um ponto de vista global, vendo e sabendo tudo que acontece dentro do mundo da história, incluindo o que cada um dos personagens é capaz de pensar e sentir. A última parte enfoca principalmente Dilsey, uma das servas negras dos Compsons. Jason também é apresentado, mas Faulkner sugere relances de pensamentos e ações de todos da família.



Gabriel Garcia Marquez - Cien Años de Soledad (Cem Anos de Solidão)


Em nenhum outro livro Gabriel García Márquez empenhou-se tanto como em Cem Anos de Solidão (1967). Assim, ao mesmo tempo em que a incrível e triste história dos Buendía - a estirpe dos solitários para a qual não será dada "uma segunda oportunidade sobre a terra" - pode ser entendida como uma autêntica enciclopédia do imaginário, ela é narrada de modo a parecer sempre que tudo faz parte da mais banal das realidades.


Cem anos de solidão se passa na cidade imaginária de Macondo, e conta a história de seus fundadores liderados pela família Buendia-Iguaran. José Arcadio Buendía é o patriarca da família e Úrsula Iguarán a matriarca. Trata-se de um casal de primos, que se casaram assustados pelo mito de que o casamento entre familiares poderia gerar filhos com rabos de porco. Este temor cria situações divertidas no início do relacionamento, mas também situações trágicas, e será, em última análise, o causador da mudança de cidade do casal para fundar Macondo.


A história é belíssima e em diversos momentos é difícil entender se Cem anos de Solidão segue os padrões da realidade ou se é uma história épica. Os casos e personagens remetem a habitantes de cidades do interior da América Latina, os casos fantásticos e a longevidade das pessoas também lembra os causos contatos pelos mais velhos, nas cidades pequenas da América Latina. O tema central do livro é a solidão, pois parece que todos os integrantes da família, das mais diversas gerações, estão fadados a conviver com a solidão.

"Naquela noite interminável, enquanto o Coronel Gerineldo Márquez evocava as suas tardes mortas no quarto de costura de Amaranta, o Coronel Aureliano Buendía arranhou durante muitas horas, tentando rompê-la, a dura casca da sua solidão. Os seus únicos momentos felizes, desde a tarde remota em que seu pai o levara para conhecer o gelo, haviam transcorrido na oficina de ourivesaria, onde passava o tempo armando peixinhos de ouro. Tivera que promover 32 guerras, e tivera que violar todos os seus pactos com a morte e fuçar como um porco na estrumeira da glória, para descobrir com quase quarenta anos de atraso os privilégios da simplicidade."


   Em termos literários, Cem anos de solidão possui uma narração em terceira pessoa, escolhe um espaço único para desenvolver a história e tem um ritmo próprio e continuo, tudo isso junto facilita a familiarização do leitor com a história. O estilo do livro é o do realismo fantástico, que extrapola o que se convenciona chamar de realidade, para criar situações ricas em sentido e conotações, um grande prazer para o leito.





Marcel Proust - À la recherche du temps perdu (Em busca do tempo perdido)


A homossexualidade é um dos temas principais do romance, especialmente em Sodoma e Gomorra e nos volumes seguintes. "Em Busca do Tempo Perdido" é o primeiro dos grandes romances em que a homossexualidade é tema central, tanto como conceito para discussão como pela descrição do comportamento dos seus personagens.

Embora o narrador se descreva como heterossexual, suspeita constantemente das relações da sua apaixonada com outras mulheres. Também Charles Swann, a figura central de grande parte do primeiro volume, tem ciúmes da sua amante Odette (com quem mais tarde casará), que acabará por admitir ter realmente mantido relações sexuais com outras mulheres.

Alguns personagens secundários, como o Barão de Charlus (inspirado em parte pelo o famoso Robert de Montesquiou), são abertamente homossexuais, enquanto outros, como o grande amigo do narrador, Robert de Saint-Loup, são mais tarde apresentados como homossexuais não assumidos. A monumental confrontação do tema da homossexualidade em "Em Busca do Tempo Perdido" permitiu aos leitores que a homossexualidade poderia ser mais que apenas actos lascivos de sodomitas ou os maneirismos afectados de homens obcecados em negar a sua masculinidade. Em vez disso, o romance de Proust apresentou a homossexualidade como um assunto complexo e multifacetado, que, se examinado de perto, derrota todos os estereótipos.

“o que os faria se assemelharem a criaturas monstruosas, como se ocupassem um lugar tão considerável, ao lado daquele tão restrito que lhes é reservado no espaço, um lugar, ao contrário, prolongado sem medida visto que atingem simultaneamente, como gigantes mergulhados nos anos, épocas tão distantes vividas por eles, entre as quais tantos dias vieram se colocar no Tempo.” 

Diante da análise psicológica extraordinária do romance, a alma é tocada e estremecemos ao perceber o quanto de nós está ali e o quanto éramos disso inconscientes. Ao mesmo tempo nos invade um prazer estético único, sensual e espiritual a um só tempo, em medidas adequadas. Causa de tudo, as longas frases de Proust, que se sucedem implacáveis, passam a servir de referência para os fatos de nossa vida, concedendo-lhes uma proporção em que o que é trágico se atenua pela transitoriedade da vida e os detalhes aparentemente supérfluos ganham uma conotação outra, grandiosa, que nos preenche da mesma essência preciosa que o amor.
É claro que essa verdade não está no livro, mas em nós e a nós caberá encontrar a permanência desse arrebatamento. Não procura-la apenas, mas cria-la com a leitura. Uma felicidade que nada terá em comum com bem-estar e ainda assim o sobrepujará de todo. O espírito “está diante de algo que ainda não existe e que só ele pode tornar real, e depois fazer entrar na sua luz”. Essa á a busca do tempo perdido.

Uma obra que descreve os seres humanos, apesar de o romance ter muitas personagens, todas são facilmente arranjadas espacialmente, sendo possível visualizar a organização da genealogia das mesmas. Isto aponta para o domínio que o autor tem sobre o seu projeto e para o caráter artificial da obra, já que é bem planejada e não nascida do acaso.









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